Venda de remédios cresce 12,5% e atrai grandes investidores. País já tem 60 mil farmácias, dobro do recomendado
RIO - Um país com quase 60 mil farmácias do Oiapoque ao Chuí - leia-se: o dobro do número de lojas recomendado por especialistas. Ainda que o Brasil tenha mais drogarias do que padarias (52,5 mil) e as escolas de nível médio (25,7 mil), esse setor despertou o interesse de investidores consagrados, como o Fundo Gávea, do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga - que comprou parte da Droga Raia - e o BTG Pactual, do banqueiro André Esteves - que arrematou a Farmais há cerca de dez dias - além de grupos estrangeiros e até de grandes redes de supermercados. Não à toa. As farmácias são um negócio altamente rentável e devem encerrar 2009 com faturamento de R$ 31,5 bilhões ou 12,5% acima dos R$ 28 bilhões do ano passado. Essas cifras sobem com a frouxa fiscalização do segmento, com o hábito do brasileiro de se automedicar e o avanço de renda das famílias, especialmente das classes C e D, como mostra reportagem do GLOBO de Fabiana Ribeiro e Erica Ribeiro.
- É um negócio rentável, tem margem garantida, volume crescente, é imune à crise. Em mercados maduros, como Europa e EUA, não há mais espaço para crescer. O Brasil é a bola da vez. Há projeções de dobrar o faturamento do setor nos próximos cinco anos. Para o consumidor, isso representa preços menores, pois o maior número de lojas e redes acirra a disputa no setor - disse Edison Tamascia, presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas de Farmácias (Febrafar).
Rio tem 2 mil farmácias além do que deveria
Na avaliação de Paulo Oracy Azeredo, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Rio, há um excesso de farmácias no país.
- A Organização Mundial de Saúde recomenda que para cada quatro mil habitantes exista uma farmácia. Fazendo essa conta, o Estado do Rio tem hoje 5,6 mil farmácias, enquanto deveria ter 3,6 mil em funcionamento. Isso acontece porque a Lei 5.991, de 1973, permite que a abertura de uma farmácia seja feita como a de qualquer negócio do comércio. Mas está havendo um aperto da legislação - diz Azeredo, acrescentando que o atual modelo de farmácias acaba incentivando a automedicação. - O sistema "pegue e pague" impede o uso racional do medicamento, que deve ter a orientação de um farmacêutico.
O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Raposo de Mello, também tem a opinião pessoal de que o país tem mais farmácias do que deveria. Porém, segundo ele, se todas as farmácias do país atendessem corretamente à legislação, o número de estabelecimentos não importaria tanto. Segundo ele, a automedicação se combate qualificando os serviços e o atendimento.
- É desta forma que se constrói a cultura de que o medicamento deve ser consumido com orientação. A escolha é sempre do consumidor, mas ele tem direito a ser bem orientado.
O Globo em 04/10/2009